quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Praticidade" ainda é mais valorizada


É a triste constatação de uma pesquisa realizada pelo Ibope, encomendada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), para mapear as principais tendências no país do consumo de alimentos industrializados. Foram entrevistadas 1.512 pessoas de nove capitais.
Por alimentos práticos entendem-se os industrializados prontos - incluindo os congelados - ou semi-prontos para o consumo. Na pesquisa em questão, 34% dos brasileiros disseram que, na hora de escolher os alimentos no supermercado, a praticidade no preparo vem antes do quesito qualidade.

Depois desse grupo, outro não menos alarmante: 23% dos entrevistados disseram colocar o prazer de comer acima de tudo. Empatando com esse grupo, outros 23% de pessoas preferem marcas de confiança (justamente nesta semana, em que a Nestlé está sendo processada por fazer propaganda enganosa! vide: http://comacomosolhos.com/alpino-fast).

Isso demontra que a preocupação com a saúde ainda não faz parte da agenda da maioria dos brasileiros.

A preferência por alimentos saudáveis ou sustentáveis ficou em quarto lugar: apenas 21% dos pesquisados.

Segundo a pesquisa, os consumidores que priorizam alimentos mais saudáveis são os que parecem ter maior consciência: procuram pelos selos de qualidade, por informações sobre a origem do produto e por fabricantes que protegem o ambiente.

Disse o gerente do departamento de agronegócios da Fiesp que esse consumidor "é uma pessoa com visão mais ampla. Pratica esporte, é mais preocupada com projetos sociais".

Sobre os alimentos funcionais, 33% dos entrevistados disseram acreditar totalmente que trazem benefícios à saúde.

Já os consumidores das classes D e E são mais céticos: 22% não acreditam nas propriedades funcionais dos alimentos e apenas 14% não acreditam nos alimentos funcionais.

Esse dado aponta para que a informação correta não tem chegado às classes menos favorecidas, que têm na televisão praticamente sua única fonte informativa.

A pesquisa perguntou também se, no futuro, os alimentos poderão substituir os remédios. 28% acreditam que sim.
É uma porcentagem ainda muito pequena a que aposta no poder da alimentação saudável.

Uma boa notícia: o rótulo dos alimentos é lido por 69% dos consumidores. Dos que procuram as informações nutricionais, 52% se precoupam em saber qual a quantidade de calorias existente nos alimentos. Nessa parcela, é maior o número mulheres com maior escolaridade e melhor poder aquisitivo.

A gordura vem em segundo lugar como foco de atenção: 39% dos entrevistados se preocupam com o tipo e o teor de gorduras dos produtos. A preocupação se explica: 40% dos entrevistados acreditam estar acima do peso e 59% pretendem fazer dieta ou reeducação alimentar para perder os quilos a mais.

Vejam que a porcentagem de indivíduos que acreditam estar acima do peso é grande e corresponde à prevalência nacional para sobre-peso, de acordo com recentes pesquisas. (http://www.inca.gov.br/inquerito/docs/sobrepesoobesidade.pdf)

Esse mapeamento demonstrou um excelente painel sobre as escolhas alimentares dos brasileiros, apontando a necessidade urgente dos órgãos de saúde em divulgar com maior intensidade a importância da alimentação saudável, principalmente entre as classes menos favorecidas.

É preciso desmistificar a idéia de que o alimento natural é de difícil manuseio, que é difícil de encontrar e que é mais caro. Que tal se fazer isso usando a mesma estratégia das indústrias alimentícias: propaganda, acompanhada de boa informação?
Os alimentos prontos tem apenas uma única vantagem: são fáceis de preparar. Mas são poucos os alimentos industrializados que levam em consideração sua própria falta de vitaminas, fibras alimentares e propriedades funcionais. Sem contar a quantidade de componentes químicos como corantes, conservantes e melhoradores de sabor que são extremamente prejudiciais à saúde (o nosso fígado tem de metabolizar todas essas substâncias estranhas; ele que o diga!!!). No final das contas, a praticidade vai custar caro, quando tivermos de pagar tratamentos médicos das doenças adquiridas!

Outro ponto negativo dos alimentos industrializados é a agressão ao meio ambeiente provocada pelas fábricas, rejeitos industriais, embalagens. As últimas enchentes verificadas em quase todos os estados brasileiros representam um grande alerta pela quantidade de vias pluviais entupidas por embalagens de alimentos (sacos plásticos e garrafas pet!).
Não podemos passar incólumes pela era da informação! É preciso buscarmos o conhecimento para fazermos as melhores escolhas para nós e o meio ambiente.

Consciência é o caminho!
Fonte:
Mismetti, Débora. Alimentos práticos são mais valorizados que os saudáveis. Folha de S. Paulo, pág C7, quarta-feira, 19 de maio de 2010.
Dicas para leituras
Consumo infantil de alimentos industrializados e renda familiar na cidade de São Paulo: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v36n6/13518.pdf