sábado, 2 de maio de 2009

Repensar o Modo de Produção

Amigos,

Vale à pena refletirmos, neste momento, sobre ter aparecido "de repente" a Gripe Suína e o que isso tem a ver com nutrição. Não que a ingestão de carne de porco tenha a ver diretamente com essa epidemia, mas o modo de produção, esse tem.

Vejam alguns trechos de uma entrevista concedida por Alejandro Nadal, economista dos Centro de Estudos Econômicos do México, enviada por Soraya Terra, nutricionista do Instituto Vida Una, sobre a correlação entre a gripe suína e o sistema de produção de alimentos.

30 DE ABRIL DE 2009 - 20h39
Gripe do Agronegócio: 'suspeito número um é o sistema de produção'

De que estamos tratando quando se fala de gripe suína?
A chamada febre ou influenza suína é provocada por uma variação de um vírus que é endêmico em porcos. A influenza suína é rara em humanos, mas o vírus pode sofrer mutações e afetar humanos. É isso o que aconteceu neste caso.

Como pode ter havido a mutação do vírus, ao que parece, muito rapidamente e afetar a espécie humana?
O suspeito número um é o sistema de produção industrial de porcos, onde o confinamento permite o intercâmbio maciço de vírus, o que facilita o surgimento de novas cepas e variantes, algumas das quais podem ser um tipo patógeno de influenza, que pode afetar os seres humanos. As pocilgas são bem conhecidas por serem uma das melhores fontes de geração de variantes desses vírus.

Qual é a situação em seu país, neste momento?
Fala-se de mais de dois mil casos de infecção com um quadro clínico similar ao do vírus A (H1N1). Cerca de 150 pessoas morreram, o que situa o nível de mortalidade em níveis comparativos a epidemias muito graves, embora não seja prudente ainda fazer comparações com estes níveis estatísticos.

O que está acontecendo significa que a pecuária intensiva, industrializada, é um caldo de cultivo para agentes infecciosos? Não estamos tratando os animais, seres vivos, como se fossem seres inanimados, sem dor nem sofrimento?
A produção industrial em grande escala de gado em estábulos, de porcos e aves em ''granjas'' gigantescas, que são verdadeiras fábricas de carne, é uma das aberrações da produção capitalista nestes últimos cinquenta anos. Sim, efetivamente, é um caldo de cultivo de agentes patológicos. Facilita sua rápida evolução e promove o surgimento de novas cepas de grande virulência. É bem sabido pelos epidemiologistas o fato de que os vírus que causam a morte de seu hospedeiro mantêm um equilíbrio entre virulência e velocidade de transmissão. No caso dos criadouros industriais de porcos e aves, a recolocação cada vez mais rápida dos animais gera pressões (evolutivas) que desembocam no surgimento de cepas mais daninhas e de altas velocidades de transmissão. O fato é bem conhecido na literatura especializada. Mas as autoridades, tanto nacionais como internacionais (incluíndo aí a OMS, no que compete à FAO), sempre toleraram estas condições de produção de carne para a alimentação humana.

Podemos tirar alguma lição do que está acontecendo?
Há duas lições muito importantes. Primeiro, as fábricas de carnes (os gigantescos ''feedlots'' de bovinos nos Estados Unidos, as granjas de porcos e aves) são recintos em que a lógica da rentabilidade do capital se mistura com a dinâmica evolutiva da natureza. O resultado é uma mistura explosiva. A rentabilidade requer grandes escalas de produção, crescimento rápido dos animais (induzido artificialmente por meio de hormônios) e forte rotação do capital. A dinâmica evolutiva não perdoa e aproveita essas características nos processos produtivos de carne em escala industrial. Desse caldeirão vão surgir sempre novos vírus patógenos. A OMS e os epidemiologistas do mundo sabem disso. A segunda tem a ver com o tema da biossegurança, esta epidemia é uma mostra clara de que os sistemas de biossegurança no México, e provavelmente em muitos países, não estão preparados, nem de longe, para enfrentar essas contingências.

Para ler a entrevista na íntegra acesse o site: Rebelión (em espanhol): www.rebelion.org

Mais informações poderão ser obtidas no blog desenvolvido pelo NEPAM da UNICAMP: http://educomambiental.blogspot.com/

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